A importância da coletividade na efetivação das práticas acessíveis: Celebrando um ano de CABU

Charge DigitalDescrição da imagem: Charge digital. Retângulo na horizontal com as bordas na cor preta e fundo branco. Acima do retângulo, no lado esquerdo está a hashtagacessibilidadeemcharges e no lado direito a frase “Descrição da imagem no texto alternativo”. Na parte superior do retângulo, em letras pretas, está a frase: “A importância da coletividade na efetivação das práticas acessíveis: Celebrando um ano de CABU”. Uma linha azul separa a frase do restante do desenho que está abaixo. Na porção central da imagem, à esquerda há uma mesa redonda, no entorno da qual estão reunidos, nesta ordem: Cláudia, a diretora, Luís e as integrantes da CABU Jéssica, Verônica e Suélen, que veste um conjunto de calça e blusa roxas. À direita da mesa estão, de pé, as integrantes da CABU Tamara, Juliane e Patrícia. Em toda a parte inferior do retângulo há um piso podotátil, que também se liga à mesa. No lado esquerdo do piso estão as integrantes da CABU Clarissa e Vanessa, que está de vestido vermelho. No lado direito, estão Carol e Lis.


A importância da coletividade na efetivação das práticas acessíveis: Celebrando um ano de CABU

Ao pensar a participação das pessoas com deficiência na vida social, educacional, cultural, profissional e política, faz-se necessário refletir sobre os paradigmas colocados pela estrutura social vigente, pois esta reflexão requer uma análise crítica sobre os corpos que são aceitos e possibilitados de vivenciarem a cidadania plena. As concepções sobre os sujeitos são construídas historicamente, apreendidas e incorporadas à cultura. Porém, não são naturais, pois nossa sociedade “inventa” padrões, adequa os corpos e as mentes a um pensamento “dominante” que aprofunda desigualdades e exclusões sociais de grupos, esses não escolhidos ao acaso.

A CABU tem debatido essas questões e trazido elementos teóricos, legais e práticos ao longo desse último ano (11/2019-11/2020) por meio de suas publicações nas ferramentas institucionais, a saber: Boletim informativo interno da BU intitulado Quais são as Novas?, seção Fala Biblioteca do portal da BU e na série CABU das redes sociais vinculadas à BU. E, nesse momento, propõe uma reflexão sobre a seguinte questão: Por que acessibilidade é um tema que necessita do envolvimento de todos?

Para iniciar tal reflexão, partimos do viés conceitual do Modelo Social da Deficiência, adotado pela CABU, o qual compreende que a deficiência é inerente ao humano e que em algum momento do ciclo da vida, tal condição será vivenciada por todas/todos/todes nós. E por meio dessa perspectiva teórica, podemos afirmar que a deficiência é uma condição dialética, a qual relaciona a lesão, característica orgânica do sujeito, com o contexto restrito e precarizado o qual não pretende contemplar a diversidade humana (Diniz, 2012).

A partir dessas premissas, podemos pensar sobre o porquê a acessibilidade é responsabilidade de todas/todos/todes. E, propomos a ampliação dessa análise trazendo outros elementos fundamentais: a importância da representatividade e a criação coletiva do processo de construção de uma estrutura acessível.

Ao longo de um ano de atuação, enquanto CABU percebemos que não basta atender ao arcabouço teórico e jurídico e seguir as normas e diretrizes voltadas à inclusão das pessoas com deficiência. Para eliminar as barreiras existentes é necessário fazer uma análise sobre a metodologia de trabalho que será adotada. Pensar as diretrizes metodológicas de atuação das instituições significa compreender o fenômeno com o qual estamos trabalhando: a estrutura capacitista.

Dessa forma, ao contrário do que se pode pensar no primeiro momento, o foco ou público-alvo da CABU não são as pessoas com deficiência, mas sim, a transformação da cultura capacitista presente na estrutura universitária idealizada e gerida, em sua grande maioria, por pessoas sem deficiência. Alguns exemplos de ações transformadoras são as práticas de uso de descrição da imagem nas publicações institucionais e; a promoção de eventos e capacitações com recursos acessíveis. Essas ações possibilitam o acesso das pessoas com deficiência visual que fazem uso de software leitor de tela e promovem consciência social das pessoas videntes diminuindo o distanciamento na interação entre esses dois grupos.

Outro aspecto relevante é a representatividade, um dos pontos indispensáveis para a efetivação das práticas anticapacitistas, como mencionado pelas próprias pessoas com deficiência “nada sobre nós sem nós” (Brasil, 2009). A CABU compreende que não há como pensar, elaborar e implementar estratégias para a promoção de acessibilidade sem a participação das próprias pessoas com deficiência. Para tanto, além da consulta a essas pessoas, a própria comissão tem em sua constituição pessoas com deficiência.

Um exemplo de ação capacitista é quando pessoas sem deficiência tomam decisões ou criam produtos e serviços para as pessoas com deficiência sem que elas participem do processo ou sejam consultadas. Essa cultura, tão presente em nosso modo de vida, pode ser alterada em um processo de educação, conscientização, criação e manutenção de políticas públicas que promovam a representatividade.

Outro aspecto essencial percebido pela CABU durante sua atuação é a construção coletiva e participativa. A efetivação de práticas acessíveis e inclusivas requer a contemplação dos diversos olhares, posicionamentos e perspectivas que compreendem a diversidade das áreas de atuação, de formação e de perfil de sujeito. Por isso, CABU adota enquanto procedimento metodológico a construção coletiva de suas ações, com o intuito de contemplar o maior público possível na oferta de serviços da biblioteca universitária.

O processo de implicação coletiva é utilizado por diversos movimentos que servem de inspiração para a CABU, como o Coletivo de mulheres com deficiência Helen Keller. A construção coletiva tem como princípio dar voz a cada integrante do grupo, considerando a especificidade e contribuição de cada pessoa envolvida. Assim, o resultado é fruto de uma identidade coletiva construída nesse processo.

Esse texto foi elaborado no momento em que o trabalho da comissão de acessibilidade da BU/UFSC, Por uma BU Acessível – CABU completa um ano. Nessa data, propomos a reflexão sobre o porquê implicar-se com a promoção de acessibilidade e apresentamos alguns elementos que compõem os caminhos para a efetivação da prática acessível.

Referências

DINIZ, D. O que é deficiência. São Paulo: Brasiliense. 2012. (Primeiros Passos).
BRASIL. Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009. Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm . Acesso em: 07 out. 2020.

Leitura complementar

Bampi LNS, Guilhem D, Alves ED. Modelo social: uma nova abordagem para o tema deficiência. Rev. Latino-Am. Enfermagem [Internet]. jul-ago 2010 Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rlae/v18n4/pt_22.pdf Acesso em: 07 nov. 2020.

Boletim: Comissão dos Direitos Humanos do CFP [recurso eletrônico] / Conselho Federal de Psicologia. – v. 1, n. 4, set – out 2020. – Brasília: CPF, 2020. p. 14- 18. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2020/10/885.1-Boletim-CDH_ed4_v3.pdf Acesso em: 07 nov. 2020.