Criar ambientes, ações e serviços contemplando acessibilidade ou adaptar quando necessário? Vamos romper com a cultura capacitista?

 

Descrição da imagem: Charge digital. Retângulo na horizontal com as bordas na cor preta e fundo branco. Acima do retângulo, no lado esquerdo está escrito hashtagacessibilidadeemcharges e no lado direito a frase: Descrição da imagem no texto alternativo. Dentro do retângulo, centralizada, está a diretora, sentada atrás de sua mesa. E no lado direito, está Cláudia que aparece de perfil em sua cadeira de rodas. A diretora tem cabelos pretos e cacheados, tamanho médio e divididos no meio. Acima dela, há um balão de fala com os dizeres: ‘Oi Cláudia! A gente vem transformando nossa estrutura para que nossos serviços tenham acessibilidade e seria importante você participar do processo. Você tem interesse?’. Cláudia veste um conjunto de calça e blusa azul escuro, tem cabelos curtos tipo chanel que estão penteados para trás. E acima dela sua resposta: ‘Claro que sim! Eu prefiro frequentar locais que pensam seus serviços eliminando barreiras.’.Do lado esquerdo do retângulo há um cartaz com fundo azul claro, com os seguintes dizeres em preto: ‘Biblioteca na luta contra o capacitismo!!’. Abaixo dos dizeres estão distribuídos de forma aleatória os rostos dos personagens Lucas, Lourenço, Prof. Estela, Andressa, Laís, Jonas e Luana, com os respectivos nomes abaixo deles, e um círculo branco com o nome Cláudia no centro, seguido de um ponto de interrogação.

 _________________________________________________________________________

 Uma sociedade inclusiva e anticapacitista é aquela que oportuniza a participação com equidade a todas as pessoas, independentemente de sua especificidade e funcionalidade corporal, sensorial ou cognitiva. Encontrar meios para alcançar esse propósito demanda uma análise crítica da estrutura social, disposição para buscar novas formas de estruturação e sensibilidade para estabelecer relações com todos os grupos que compõem a diversidade humana de maneira digna e com qualidade.

Na prática, essa perspectiva pode ser percebida no modo como as ações são criadas e desenvolvidas. Por exemplo, quando o acesso é viabilizado apenas após a presença de uma ou algumas pessoas com deficiência em determinado contexto. Raras são as situações em que antecipadamente são pensadas estratégias para promoção de acessibilidade para que as pessoas com deficiência frequentem os espaços. Mais rara ainda é a qualidade no acesso viabilizado a essas pessoas.

Esse modo de operar, cuja adaptação é feita para a pessoa com deficiência que “surgiu” no ambiente pensado e estruturado para pessoas sem deficiência, configura o capacitismo – discriminação vivenciada pelas pessoas com deficiência pelo fato de terem uma condição que não corresponde com o padrão idealizado de corpo e funcionalidade. Uma sociedade capacitista é aquela que atribui os impedimentos ao corpo e opta por criar ambientes restritivos e excludentes para acesso apenas de um perfil desejado de sujeito (BARNES, DINIZ, 2013).

Em pouco mais de um ano a CABU abordou diversas temáticas que envolvem Acessibilidade e Pessoa com Deficiência, dando enfoque para seus múltiplos aspectos. Todos os textos e charges, publicados nesta seção, foram elaborados com base em conteúdos teóricos e vivências práticas com a participação das pessoas com deficiência.

Nesse período, ressaltamos o quanto o Modelo Social da Deficiência (MSD) teve influência na legislação e nos movimentos de luta por direitos das Pessoas com Deficiência. Assim como o quanto esse modelo teórico contribui para a identificação da cultura capacitista e das barreiras presentes no cotidiano dessas pessoas. A mudança de perspectiva em relação às pessoas com deficiência possibilita a busca por facilitadores para que tenham autonomia em suas atividades.

Ao considerarmos a existência de várias categorias de deficiência, percebemos que as diferenças fazem parte da diversidade de corpos que possuem distintas necessidades e que precisam ter seus direitos respeitados para uma vida digna. O MSD, junto com os estudos científicos, com a legislação, com as tecnologias assistivas, as ferramentas digitais e o desenho universal mostram que o rompimento com a cultura capacitista é possível e necessário e deve ser feito por meio de mudanças na estrutura social vigente (DINIZ, et al, 2009).

Para isso, é preciso pensar a acessibilidade na origem do desenvolvimento de projetos, sejam eles arquitetônicos, informacionais, culturais, de transporte, etc. Para que atendam a maior diversidade de corpos possível e promovam a equidade de acesso aos bens e serviços públicos e privados.Com o foco na contribuição que as bibliotecas, sobretudo as bibliotecas universitárias, devem oferecer a todas as pessoas, elencamos algumas dicas para que sua estrutura seja revista e se torne inclusiva, prevendo o acesso à informação e ao conhecimento.

  1. Invista em formação – atualmente há diversas formações sobre acessibilidade no contexto de bibliotecas. É essencial ter conhecimento e dialogar sobre as diferentes temáticas que abrangem a área;
  2. Verifique se o website e as mídias digitais estão acessíveis, compatíveis com os softwares ampliadores e/ou leitores de tela, se há possibilidade de mudar contraste e se o conteúdo está disponível em Libras;
  3. Inclua acessibilidade às pessoas com deficiência no conteúdo dos documentos institucionais (regimentos, regulamentos, tutoriais, etc);
  4. Disponibilize a descrição de toda e qualquer imagem utilizada;
  5. Providencie versão em Libras dos conteúdos produzidos;
  6. Preveja a promoção de acessibilidade nos fluxos de processos para que faça parte da metodologia de trabalho de cada serviço e ação desenvolvida.

Essas são apenas algumas das inúmeras ações que podem transformar os ambientes, serviços e relações sociais, tornando-os acessíveis. Contudo, para que as diversas barreiras que impedem que a prática acessível sejam eliminadas, há primeiramente que refletir sobre o modo que a pessoa com deficiência é percebida. É preciso desmistificar a ideia de falta, de incapacidade e de estranhamento sobre a condição de deficiência. A mudança de percepção é fundamental para a eliminação da barreira atitudinal. Essa é a barreira que perpassa todas as outras (arquitetônica, comunicacional, informacional, instrumental, programática, etc) e é impulsionada pela cultura capacitista.

Ou seja, antes de adaptar algum serviço, projeto ou ambiente, ou ainda, planeja-los de forma acessível, tem-se que desconstruir a impressão equivocada sobre as pessoas com deficiência e analisar criticamente as práticas e concepções sociais sobre a diversidade humana e a estrutura vigente. Esse exercício é fundamental e deve ser feito por todas as pessoas, sobretudo pelos profissionais da educação que atuam nas bibliotecas, para que essas sejam espaços de amplo acesso.


Referências

BARNES, Colin; DINIZ, Debora. Deficiência e políticas sociais – entrevista com Colin Barnes. Ser Social, Brasília, v. 15, n. 32, p. 237-251, jan./jun. 2013. Disponpivel em: https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/14984/1/ARTIGO_DeficienciaPoliticasSociais.pdf

DINIZ, Debora et al. “Deficiência, direitos humanos e justiça”. Revista Internacional de Direitos Humanos, v. 6, n. 1, pp. 65-77, São Paulo, dez. 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sur/a/fPMZfn9hbJYM7SzN9bwzysb/?lang=pt

Por Comissão Por uma BU Acessível (CABU)

acessivel.bu@contato.ufsc.br

Novembro, 2021