Sobre o Ciclo de Palestras
“O romance histórico, estabelecido no Brasil no século XIX – pela escritura de José de Alencar – comporta episódios e acontecimentos históricos que ilustram a história oficial da nação brasileira.
No livro As Minas de Prata (1865-1866), a saga dos bandeirantes aventureiros é apresentada com intensa vivacidade e rusticidade, longe do pragmatismo pregado pelos livros históricos didáticos que visam explorar o mesmo assunto. Como sabemos a crítica literária brasileira, afirma que Alencar bebeu na fonte do escritor escocês Walter Scott nos seus clássicos Waverley (1814), Rob Roy (1818) e Ivanhoé (1819).
A tríade romanesca apontada também caracteriza aquilo que o escritor francês Honoré de Balzac ilustraria na sua longa jornada literária de costumes: o cotidiano da sociedade francesa no mesmo século. Como podemos observar, a estratégia estilística da paródia, título do clássico ensaio, A teoria da paródia (1985), da teórica canadense Linda Hutcheon, serviu estrategicamente, como ferramenta necessária para recompor os enredos desses escritores. Basta observarmos o caso Paulo Setúbal, escritor paulistano, que recria picarescamente o universo historicista da vida da corte no Brasil, especificamente o Primeiro e Segundo Reinado, baseado na leitura de outros historiadores que fizeram o mesmo.
Não obstante, as facetas históricas são narradas por ângulos diferenciados, observando que a História de uma nação e suas peculiaridades pode ser contada sempre por uma subjetividade distinta. Já o novo surgimento do romance histórico brasileiro, especificamente na década de 70, estaria diretamente ligado, como aponta a crítica, aos romances Galvez, Imperador do Acre (1976), Mad Maria (1980), O Brasileiro Voador (1985), do escritor amazonense Marcio Souza.
Na década de 1980, fruto de algumas especulações paródicas dos romances de Arthur Conan Doyle, teríamos o clássico romance italiano O nome da rosa (1980), do escritor Umberto Eco. Por conseguinte, no início do século XXI, teremos o fenômeno de vendas, anunciado pelo jornalismo histórico literário empreendido tanto por Laurentino Gomes, quanto pela historiadora Mary del Priore.
O projeto de extensão II Ciclo de Palestras: Os Mestres da Narrativa Histórica Brasileira versa, por meio de palestras, proferidas por um grupo de acadêmicos, sobre os principais escritores que referendaram os principais acontecimentos históricos no Brasil, especificamente aqueles oriundos das revoltas, revoluções, enfim das datas que marcaram a nossa história.
Portanto, a partir da leitura da vida e da obra do autor apresentado, assim como a estrutura do próprio romance, delineado através da sua estrutura básica (enredo, período histórico do autor e anterior, personagens, espaço, tipo de narrador), pretendemos abordar brevemente características ligadas a esses episódios, ensejando possíveis diálogos com o público participante. A título de exemplo, a passagem do Império para a República, a construção da Ferrovia Madeira Mamoré, a Guerra do Contestado, assim como personalidades históricas, como é o caso de Gregório de Matos e da princesa Carlota Joaquina, serão temáticas articuladas nos romances trabalhados.
Tendo em vista a grande aceitação do I Ciclo de Palestras: Os Mestres da Literatura Latino-Americana, a contribuição maior desse segundo projeto parte de uma valorização da nossa memória em relação aos acontecimentos que marcaram a história brasileira, compartilhado através dos seus estados territoriais e culturas, mesclando teoria literária e historiografia, revitalizando com o nosso presente atual, instigando novas leituras e olhares críticos”.
Saudações Cordiais!
Cristiano Mello de Oliveira
Curador do II Ciclo de Palestras: Os Mestres da Narrativa Histórica Brasileira
Doutorando em Literatura – UFSC.