Acessibilidade comunicacional e linguística – Pessoas Surdas Sinalizantes

Descrição da imagem: Charge digital. Retângulo na horizontal com as bordas na cor preta e fundo branco. Acima do retângulo, no lado esquerdo está a hashtagacessibilidadeemcharges e no lado direito a frase “Descrição da imagem no texto alternativo”. Dentro do retângulo, na parte superior esquerda, encontra-se um retângulo com borda azul e no seu interior está escrito com letras pretas e maiúsculas “Dicas de Etiqueta”. A imagem possui uma linha divisória vertical no centro do retângulo em formato de raio. À esquerda está a diretora sentada atrás de uma mesa, onde está apoiado um notebook que aparece de perfil. Ela tem cabelo cacheado, preto, médio, dividido no meio e cheio e seus olhos são no formato de bolinhas. Acima dela há um balão de fala com os dizeres “Olá, sou a diretora da biblioteca e lembro que nesta live sobre bases de dados contaremos com o trabalho dos intérpretes de Libras” . No lado direito da imagem está Andressa. Ela veste blusa branca, seus cabelos são pretos e encaracolados, estão presos em um coque, com alguns cachinhos soltos sobre a testa. Seus olhos são em formato de onda. Andressa aparece de perfil olhando para um notebook apoiado em uma mesa. Na tela do notebook aparece a diretora ocupando a maior parte da imagem e no canto inferior direito, em um quadro, está o intérprete de Libras. Acima de Andressa há um balão em formato de nuvem, que indica o seguinte pensamento “Com essa live acessível vou obter as informações necessárias pra minha pesquisa!”.


As pessoas surdas sinalizantes enfrentam barreiras comunicacionais, como a fala de costas impedindo a leitura labial ou a fala e a apresentação de algum recurso visual concomitantemente. Para além destas, enfrentam também barreiras linguísticas, que ocorrem por conta do uso, por essas pessoas, de uma outra língua – as línguas de sinais.

Ter o conhecimento de que as línguas de sinais (sim, no plural!) se constituem enquanto língua com estrutura gramatical própria, é essencial para desmistificar a ideia reducionista de que as pessoas surdas sinalizantes usam “gestos naturais” ou “mímicas” para se comunicarem (GESSER, 2009). Tal como compreender que a língua de sinais não é universal, mas que, difere para cada país. E, assim como as línguas orais, as línguas de sinais são vivas, sofrem influência cultural e territorial.

Embora os surdos, assim como os ouvintes, sejam nativos de um determinado país é comum que sua identidade seja comparada a de um estrangeiro. Uma forma de representar a condição de estrangeiridade ocupada pelas pessoas surdas sinalizantes brasileiras é a ausência da Língua Brasileira de Sinais – Libras na estrutura dos serviços públicos e privados, fato que repercute também no desconhecimento da Libras (BRASIL, 2002) pela maioria da população. Diante dessa realidade, para que a barreira linguística seja eliminada, o serviço de tradutores/intérpretes de Libras/Português, torna-se um recurso de acessibilidade que media a interação entre as pessoas surdas sinalizantes e as pessoas ouvintes que não sabem Libras.

O ideal é que as pessoas aprendam a Libras, independente de serem surdas ou ouvintes, de forma a ampliar seu repertório linguístico e cultural para além de uma questão de acessibilidade. Entretanto, por desconhecimento ou preconceito, o interesse pelas línguas de sinais não ocorre com a mesma frequência como para as línguas orais estrangeiras como inglês, espanhol, francês, por exemplo. Por isso, é evidente a necessidade de maior divulgação das línguas de sinais como uma língua de modalidade viso-espacial possível de ser aprendida por pessoas surdas e ouvintes.

A proposta de educação bilíngue nas escolas da rede regular de ensino, defendida pela comunidade surda sinalizante, é uma forma potente de transformação cultural e linguística da população. No contexto da educação superior houveram avanços com a inserção da disciplina de Libras no currículo dos cursos de graduação, tornando-se obrigatória nos cursos de licenciatura e fonoaudiologia (BRASIL, 2005).

Para contribuir com a eliminação das barreiras comunicacionais e linguísticas, por meio de práticas acessíveis, elencou-se algumas dicas de etiqueta para interação com as pessoas surdas sinalizantes, com enfoque no ambiente das bibliotecas universitárias:

  1. Aprender Libras instrumental (aplicado ao contexto) e buscar interagir com usuárias/os surdas/os, informando-as/os que está em processo de aprendizagem da língua de sinais – geralmente há compreensão e auxílio por parte das/os surdas/os sinalizantes;
  2. Utilizar, quando oportuno, o alfabeto manual, referências visuais, escrita e outras formas auxiliares para viabilizar a comunicação com a/o usuária/o surda/o sinalizante – para romper com o distanciamento e preconceito comunicacional, possibilitando o vínculo e a interação entre pessoas surdas e ouvintes;
  3. Utilizar tecnologias assistivas como aplicativos de tradução Libras/português (ex.: Vlibras, Handtalk, Giulia);
  4. Utilizar recursos visuais para sinalizações e orientações (ex.: placas de sinalização para localização e identificação de ambientes – banheiros, salas de estudos, etc);
  5. Disponibilizar espaços para estudos e elaboração de trabalhos em Libras, garantindo ambiente e equipamentos adequados (iluminação adequada, câmera, etc);
  6. Solicitar com antecedência o serviço de tradução para os materiais produzidos na biblioteca e disponibilizados aos usuários (ex.: manuais, roteiros de visita orientada, informações sobre o acervo, materiais referentes à capacitação, etc);
  7. Solicitar com antecedência o serviço de interpretação para atendimento individual, capacitação, reunião, visita técnica, entre outros.

Sobre o serviço de tradução e interpretação cabe informar que é fundamental compreender a dinâmica da atividade dos profissionais tradutores/intérpretes de Libras/Português, para que haja fluidez e qualidade no trabalho a ser desenvolvido, como: a) o envio prévio do conteúdo para ser traduzido/interpretado, possibilitando o tempo necessário para estudo; b) a disponibilidade de adequação no formato do material ou evento para que seja efetivamente acessível e que as pessoas surdas sinalizantes tenham equiparação no acesso e na qualidade do conteúdo ofertado.

Para mais informações acerca desse trabalho indica-se consulta à página https://interpretes.paginas.ufsc.br/documentos-ctilsp/

Referências 

BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais e dá outras providências. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia de Assuntos Jurídicos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm. Acesso em: 29 mar 2021.

BRASIL. Decreto n° 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Brasília, 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso em: 01 abr 2021.

GESSER, A. LIBRAS? Que língua é essa?: crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola, 2009.

Material Complementar

CAPELLI, J. C.S; CICCO, N.N.T.; BARRAL, J.; RUMJANEK, V.M. Educação de Surdos no Ensino Superior. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2019. Disponível em: https://acessibilidade.ufrj.br/wp-content/uploads/2019/07/manual_surdos_web.pdf Acesso em: 29 mar 2021.

Por Comissão Por uma BU Acessível (CABU)

acessivel.bu@contato.ufsc.br

Abril, 2021