Acessibilidade Informacional – As diferenças entre as pessoas com cegueira e as pessoas com baixa visão

Descrição da imagem: Charge digital.  Retângulo na horizontal com as bordas na cor preta e fundo branco. Acima do retângulo, no lado esquerdo está a hashtagacessibilidadeemcharges e no lado direito a frase “Descrição da imagem no texto alternativo”. Dentro do retângulo, no lado direito está Carla. Ela veste vestido preto, tem cabelos pretos,  lisos e finos na altura dos ombros e seus olhos são no formato de dois peixinhos, e do lado esquerdo estão Liz e Jonas. Liz está com sua bengala, veste vestido amarelo, tem cabelos compridos e ondulados e seus olhos são no formato de pétalas. Jonas tem cabelos platinados, dividido no meio e usa óculos. Veste camiseta branca e calça preta.  Seus olhos são duas bolinhas amarelas. Acima da cabeça de Carla há um balão de fala com os dizeres “Oi Liz! Você viu que eu fiz uma publicação com descrição da imagem? Coloquei até #paracegover”. Acima de Liz está o balão com sua resposta “Que bom Carla! Mas você sabia que essa hashtag não é a mais adequada? Eu costumo usar #paratodosverem, mas ouvi dizer que tem outras opções… não é isso Jonas?”.  E acima de Jonas está o balão com sua resposta “É isso mesmo! Ultimamente vem se fortalecendo o uso de #descriçãodaimagem porque auxilia o entendimento de outras pessoas também.”


Entre as deficiências sensoriais há a cegueira e a baixa visão, cujas especificidades estão relacionadas a acuidade e a funcionalidade visual. Essas características se manifestam com variações na intensidade e no modo de enxergar. Tal condição interfere na forma de perceber e interagir no mundo. No entanto, cabe destacar que a deficiência visual não se refere à incapacidade do sujeito, mas apenas representa uma de suas características e não uma determinante, de modo a reduzir as pessoas cegas ou com baixa visão à sua deficiência (MARTINS, 2009).

Pessoas com cegueira congênita ou adquirida têm perfis diferenciados, utilizam-se de recursos de acessibilidade informacional que combinam com seu perfil. Para se locomover com independência, por exemplo, algumas pessoas cegas utilizam o cão guia, outras optam pelo uso exclusivo da bengala. A escolha dos softwares leitores de tela (NVDA, JAWS, Virtual, Vision, DOSVOX, Orca, VoiceOver) também passa pela identificação com formatos e estilos dessas tecnologias assistivas.

No caso das pessoas com baixa visão, há mais um fator de especificidade entre elas, o resíduo visual, que pode se apresentar de formas diferenciadas. Ou seja, têm pessoas que perdem a visão periférica e têm a visão central preservada, ou o inverso, têm aquelas que a visão é flutuante, ou embaçada, e/ou ainda pode apresentar cegueira noturna. Essas variações, fazem da deficiência visual uma característica cujo amplo espectro acarreta em algumas singularidades no perfil das pessoas com essa condição.

A forma de interação e de acesso à informação das pessoas com deficiência visual também é variada. Tratando-se de pessoas com cegueira, por exemplo, há o mito de que o recurso de leitura mais utilizado é o Sistema Braille [Nota1]. Este recurso é essencial para o processo de alfabetização das crianças com cegueira, pois possibilita, por meio do tato, o contato com cada letra que compõe uma palavra, o que é muito importante no processo de alfabetização (MENDONÇA, et al, 2008). No entanto, é pouco usado por adultos ou pessoas com cegueira adquirida, por não ser funcional, sobretudo com o advento das novas tecnologias e da internet, que ampliou o acesso à informação, tornando-o também mais ágil e dinâmico.

Um dos recursos mais utilizados para tornar conteúdos visuais acessíveis é a descrição de imagem, visto que o software leitor acessa o conteúdo escrito. Dessa forma, pessoas com deficiência visual podem interagir com fotografias, obras artísticas, charges, anúncios, gráficos, etc. As hashtags têm uma função importante nas mídias digitais, pois dão visibilidade ao tema e contribuem na difusão das ferramentas de acessibilidade. Inicialmente a hashtag utilizada era apenas: #paracegover, logo surgiu #paratodosverem e, mais recentemente, a #descriçãodeimagem como forma de dar amplitude ao direito de acesso e conscientizar sobre o uso dessa ferramenta. É importante destacar que a descrição da imagem pode auxiliar outras pessoas com especificidades, mesmo sem deficiência visual, como por exemplo pessoas com transtorno do espectro autista.

Nas bibliotecas há algumas barreiras de acesso à informação que ainda não foram eliminadas. A dificuldade na aquisição de coleções acessíveis é uma grande problemática para as bibliotecas universitárias, impactando na formação dos estudantes com deficiência visual. Na tentativa de eliminar essa barreira às bibliotecas universitárias têm desenvolvido com pioneirismo a produção de acervo digital acessível in loco, para disponibilizar aos estudantes com deficiência visual as obras necessárias para estudo e pesquisa, contribuindo substancialmente na permanência destes nas universidades. Outra iniciativa para viabilizar o acesso aos usuários com deficiência visual é o trabalho de cooperação entre bibliotecas universitárias, essa rede de compartilhamento de obras acessíveis evita o retrabalho e agiliza a disponibilização das obras ao usuário (MALHEIROS; CUNHA, 2017).

Para contribuir no processo de tornar as bibliotecas acessíveis às pessoas com deficiência visual, foram elencadas algumas orientações básicas:

  1. Os espaços devem ter piso tátil e contrastante, sinalizações táteis e sonoras para auxiliar na localização independente a segura. Uma vez conhecido o ambiente, a pessoa com deficiência visual fará o mapa mental do mesmo. Por isso, devem-se evitar modificações no espaço e, quando houver, informe-a sobre as alterações;
  2. No atendimento de usuários com deficiência visual se atente para: a) conduzi-lo deixando que ele segure seu cotovelo ou ombro; b) avise-o sobre a existência de degraus, escadas e obstáculos que estejam no trajeto; c) não pegue a bengala nem brinque com o cão-guia, sem autorização; d) fique à vontade para usar verbos como “veja” e “olhe”, mas evite referências pautadas pela visão como isso ou aquilo; e) se for se ausentar, avise para que a pessoa saiba e não fale sozinha;
  3. Em um evento, quando falar ao microfone informe sua localização; caso for o primeiro contato com a pessoa com deficiência visual ou for fazer uma apresentação faça, primeiramente, uma autodescrição; descreva os textos e as imagens dos conteúdos apresentados visualmente, como gráficos, tabelas, etc.
  4. Os acervos (físico e digital), os sistemas informatizados de gerenciamento de dados, as páginas institucionais, os regulamentos e os tutoriais devem ter incorporadas às ferramentas de acessibilidade, como compatibilidade com os softwares leitores de tela, opção de ampliação de fonte e contraste.
  5. Os equipamentos utilizados pelos usuários devem ser acessíveis, contendo fonte ampliada, contraste, comando de voz entre outros recursos que possibilitem o acesso com independência. Por exemplo, para o empréstimo de acervo prever uma forma de colocar a senha de maneira autônoma, evitando constrangimentos e preservando a privacidade do usuário.
  6. Visitas orientadas, exposições e eventos em geral devem prever audiodescrição, rota acessível e disponibilização de guias capacitados.

No processo de implementação de uma biblioteca acessível, deve-se ter clareza de que a preferência por um dispositivo ou outro cabe a cada pessoa com deficiência visual, entretanto, a disponibilidade de acesso a esses facilitadores [Nota 2] é um dever institucional.

[Nota1] Sistema Braille é um código de leitura e escrita em relevo constituído por 63 sinais formados por pontos a partir do conjunto matricial (123456). Esse sistema tátil foi criado para que as pessoas com cegueira tivessem independência e autonomia no processo de letramento e no acesso à informação.

[Nota 2] Para saber o que são facilitadores para promoção de acesso às pessoas com deficiência, acesse:

https://portal.bu.ufsc.br/servicos/fala-biblioteca/barreiras-e-facilitadores-nos-servicos-da-biblioteca-2/

Referências:

MALHEIROS, Tania Milca; CUNHA, Murilo Bastos da. As bibliotecas como facilitadoras no acesso à informação por usuários com deficiência visual. RDBCI: Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, SP, v. 16, n. 1, p. 146-170, out. 2017. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rdbci/article/view/8650318 >. Acesso em: 25 mai. 2021. doi:http://dx.doi.org/10.20396/rdbci.v16i1.8650318.

MARTINS, Bruno Sena.  O  “corpo-sujeito”  nas  representações  culturais  da  cegueira. Fractal:  Revista de Psicologia, v. 21,n. 1, jan.- abr. 2009. p. 5-22. Disponível em: https://periodicos.uff.br/fractal/article/view/4724/4514 Acesso em: 25 mai. 2021.

MENDONÇA, Alberto et al. Alunos Cegos e com Baixa Visão – orientações curriculares. Lisboa: DGIDC. Ministério da Educação, 2008. Disponível em: https://www.dge.mec.pt/sites/default/files/EEspecial/publ_alunos_cegos.pdf Acesso em: 25 mai. 2021.

Por Comissão Por uma BU Acessível (CABU)

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Junho, 2021